O nome feminino até pode confundir, emprestando um toque de delicadeza ao modelo. Entretanto, a novíssima Honda Valkyrie Rune 1800, classificada como cruiser, mostrada ao mundo ano passado e que está chegando agora ao mercado, inclusive ao Brasil, é na verdade uma espécie de tanque de guerra, com muita ousadia estilística. O motorzão, derivado da igualmente gigante Gold Wing, é um boxer plano, com inclinação de 180 graus, dividido em 6 cilindros com 1.832 cc. Para conhecer melhor essa moto rodamos com ela em São Paulo e também em Belo Horizonte.
Ao contrário da Gold Wing em que o propulsor fica quase todo encoberto por carenagens, na Valkyrie Rune, toda a roupagem foi dispensada, ficando propositalmente à mostra, em um striptease explícito, revelando cromados em profusão e um primoroso acabamento. Curiosamente, o poderoso motorzão, um dos responsáveis pelas transatlânticas dimensões da Valkyrie Rune, também é o "culpado" pela surpreendente facilidade de pilotagem do modelo. A física explica. Com sua arquitetura plana, o motor concentra grande parte do peso próximo ao solo, rebaixando de tal forma o centro de gravidade, que basta colocar a moto em mínimo movimento para o equilíbrio aparecer naturalmente, transmitindo muita segurança e sensação de controle. Uma "solucionática" genial, que permite construir motocicletas tamanhos GG, exatamente como a Valkyrie Rune, mas que podem ser conduzidas sem muitos problemas, por pilotos de qualquer manequim. Os pára-lamas, super envolventes, foram nitidamente inspirados nas mitológicas Indian Chief, assim como a suspensão dianteira, do tipo estilingue, ou Trailing Botton Link, semelhante às que povoavam a década de 40, misturando de forma ousada o visual retrô, que agora volta à moda, com design futurista. O curso de 99 mm é obtido conjugando o movimento do garfo com dois parrudos amortecedores instalados na mesa, através de links. Fazendo o contra ponto, a suspensão traseira é mono, Unit Pro-Link, também com 99 mm de curso, ancorada somente do lado direito. Os escapamentos duplos, devidamente cromados, são curtos e de formato triangular, concentrando de cada lado, a exaustão de 3 cilindros. O som, que deixa escapar, ou música da "orquestra" de seis cilindros, é bastante afinado, quase um assovio, instigando constantemente o piloto. Aliás, somente o piloto, pois, apesar de todo o aparato e tamanho, a Valkyrie Rune simplesmente não tem lugar para a garupa. Um modelo "egoísta", que mesmo com toda sofisticação e preço, deve ser para grande parte dos abonados consumidores, a segunda, ou terceira moto da garagem... Para iluminar, um farolzão triangular e cromado que fica bastante destacado. Andando O seis "canecos" do motor, refrigerado a água, com duas válvulas por cilindro e alimentado com injeção eletrônica, gira muito redondo, subindo fácil de giro a qualquer hora. Uma espécie de dragster, que deixa todo mundo para trás nas arrancadas. São 117,5 cv a 5.500 rpm, que ignoram os 368 kg a seco (veja box). O banco, tipo selim, é espaçoso e confortável. Disposto bem baixo, facilita o embarque e desembarque e as manobras de estacionamento. Já a longa distância entre o largo guidão e o banco, em função do grande tanque, exigem braços esticados na tocada. As pedaleiras só não vão mais à frente para não esbarrar nos perfeitamente cromados cabeçotes do motor. Sem qualquer carenagem, o conforto aerodinâmico em altas velocidades fica prejudicado. Exatamente quando a Valkyrie reina absoluta, com seus 1.750 mm de entre-eixos, que a transforma em uma furiosa locomotiva nas retas. Ajudados ainda por pneus radiais 150/60R-18, na dianteira, e 180/55R-17, na traseira. Por outro lado, em trechos sinuosos, a baixa altura e o volume trabalham contra exigindo mais atenção. No trânsito engarrafado do dia a dia é uma espécie de peixe fora da água. Embora confortável e fácil de equilibrar, apesar da obesidade, encalha com extrema facilidade, além de chamar tanta atenção quanto um trio elétrico, transformando imediatamente o piloto em uma celebridade... Nas estradas, de preferência com muitas retas e asfalto liso, exatamente como nas nossas "atapetadas" rodovias, a situação se inverte e vira um peixe dentro da água em seu habitat natural. Se for preciso percorrer longas distâncias, como uma legítima cruiser, melhor ainda, para felicidade do piloto e folga do motor, que trabalha relaxado em última marcha... No departamento de freios, dois discões de 330 mm na dianteira e um simples na traseira, com o sistema conjugado CBS, herdado da CBR 1100 XX. Acionando um dos freios, o outro também entra em funcionamento independentemente da vontade do piloto. Até se acostumar, apresenta uma leve tendência de "endireitar" a moto, quando nas freadas em curva. O pacote de conforto e segurança é completado com embreagem de acionamento hidráulico, que deixa o manete macio, câmbio de 5 velocidades de acionamento preciso e transmissão por cardã.