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Yamaha Virago XV 535


DETALHES BRILHANTES
Uma custom autêntica precisa ter alguns detalhes: cromados em abundância são obrigatórios. As tampas dos cabeçotes receberam uma capa cromada para impedir uma eventual queimadura, assim como as curvas do escapamento, que passam perto da perna do piloto (aliás, perto demais). As rodas são raiadas, as tampas dos filtros de ar parecem espelhos, assim como a capa do farol e dos piscas, que refletem a estrada. E o que não é cromado brilha da mesma forma, como o enorme e eficiente tambor do freio traseiro. Sem cair no exagero, os cromados deixam a Virago 535 com tanto ar de clássica que ninguém fica alheio à moto. Mas esses cromados se mostraram sensíveis a ação do tempo e com apenas dois dias a beira-mar já surgiram alguns pequenos pontos de ferrugem.

Todo esse brilho gera comentários curiosos. A maioria que se aproxima pergunta o ano, pensando se tratar de uma antiga. A cena mais engraçada foi na travessia da balsa de Laguna para o Farol de Santa Marta, quando um senhor perguntou quem havia feito a restauração da Indian (um modelo americano com dois cilindros em V, cuja fabricação foi interrompida em 1963).

No primeiro abastecimento uma surpresa. Apesar dos 535 cc, o consumo foi bem comedido, fazendo até 19,1 km/litro na estrada e 15,3 na cidade. À primeira vista o tanque dá a impressão de pouca capacidade, mas o segredo está no segundo tanque, colocado sob o banco, que eleva a capacidade total para 13,5 litros, proporcionando uma autonomia de aproximadamente 240 km. Como a saída de gasolina fica abaixo do nível dos dois carburadores, ela conta com uma bomba elétrica e não existe torneira de gasolina. Quando o nível de gasolina chega na reserva (com dois litros), é preciso acionar um botão no punho direito para abrir a reserva. Uma recomendação: nunca roda com tanque muito vazio pois força a bomba e pode queimá-la.

CURVAS SINUOSAS
Basta olhar o estilo da Virago para imaginar que fica meio difícil de levar bagagem. Nessa viagem a solução foi apelar para as bolsas laterais e que foram desenhadas especialmente para as customs. O pequeno banco do garupa é suficiente para trajetos curtos, porque, além de uma espuma pouco densa, obriga a ficar com a perna muito dobrada, cansando rapidamente. Sob esse pequeno banco se localiza um porta-ferramentas. Já nas Virago XV 750 o banco do garupa recebe mais espuma e tem mais jeitão de banco mesmo. Na 1100 o garupa conta até com encosto, melhorando muito o conforto.

Nos três modelos o banco do piloto garante conforto de sobra. Dá para rodar uma "tancada" fácil. Na viagem-teste, os 850 km de São Paulo a Laguna foram feitos em 10 horas, sem pressa, parando basicamente para abastecimento. O único item de desconforto fica pela rigidez da suspensão traseira bichoque. Em estradas bem pavimentadas até que se pode tentar uma jornada do tipo One Thousand Mile Day (mil milhas por dia, ou 1.600 km em um dia), diversão dos motociclistas americanos. Mas nos Estados Unidos não tem BR-116...

Quando a moto pega um buraco grande, parte do tranco é transferida para a coluna do piloto. Talvez fosse melhor deixar de lado a fidelidade ao estilo custom e adotar uma suspensão mais progressiva em nome do conforto. A suspensão dianteira é macia e garante uma viagem bem agradável.

As custom foram feitas para engolir quilômetros, mas de preferência em linha reta. A vantagem do baixo centro de gravidade, que melhora a estabilidade, é parcialmente anulada pela grande distância entre-eixos. O quadro é do tipo monotrave superior de berço aberto, com motor pendurado fazendo parte da estrutura, bem ao estilo das motos antigas. Nas curvas de baixa velocidade, as pedaleiras raspam no chão e, nas curvas de alta, a frente parece querer ir para um lado e a traseira para outro. Ou seja, um percurso de serra deve ser feito com muito cuidado.

FORA DA ESTRADA
Na cidade, a XV 535 roda muito bem entre os carros. A pequena altura permite colocar os dois pés no chão, facilitando muito as manobras, daí sua preferência entre as mulheres. Uma boa característica desse motor dois cilindros em V a 70° é o torque plano, com boas respostas em qualquer rotação do motor. Quase não se usa o câmbio e mesmo que precisasse isto seria fácil, já que o acionamento é suave e silencioso para engatar as cinco marchas. Silencioso também é o motor, que produz um ruído bem "harlista", abafado em parte pela imensa, mas bem escondida, marmita atrás do motor. A transmissão por cardã também colabora para uma rodagem silenciosa, além de diminuir muito as preocupações com manutenção.

Outra surpresa agradável foi o desempenho na terra e areia. Para chegar ao Farol de Santa Marta é preciso percorrer cerca de 30 km de terra, com alguns trechos de areião. Obviamente que a XV 535 não passou pelo areião como uma trail, mas na pista de terra pode-se manter boa velocidade. Os dois pára-lamas mostraram-se mais decorativos do que funcionais, jogando areia tanto pela frente, quanto pelas costas. A mesma coisa se repete no molhado. Entre uma pancada de chuva e outra, deu para notar que o pneu traseiro jogava água nas costas do piloto. Além disso, na XV 535 avaliada surgiram dois pequenos problemas: o farol não ficava na regulagem correta e quebrou o cabo de velocímetro.